quinta-feira, 11 de março de 2010

Viagem missionária ao Haiti - Dando importância a aquilo que é importante

Na semana passada (28/02 a 06/03/2010) um grupo de voluntários partiu do Brasil para uma missão ao Haiti. Entre os enviados estava Paulo Bettiol, irmão da Igreja Metodista Livre de Diadema, que levou a doação brasilera, e Carlos Nomoto, ou nosso querido Cacá, que já foi membro de Jorda e a cada dia faz trabalhos mais grandiosos para a Obra de Deus.

Na volta ele mandou fotos e um relato de como foi o trabalho lá, e o impacto que a viagem trouxe para sua vida. Esse impacto é sentido na gente também, que sempre reclama por coisas mínimas. Vejam na íntegra logo abaixo:

Glórias a Deus pela disposição dos irmãos em fazer a Obra de Deus!

Dando importância a aquilo que é importante


Carlos Nomoto

Cheguei ontem do Haiti, país que atraiu a atenção do mundo devido ao terremoto que derrubou cerca de 30% a 40% dos edifícios e casas. Um bairro chamado Bel Air caiu quase todo. As pessoas dormem em barracas por 3 motivos: porque suas casas foram destruídas, ou porque estão sob risco de desmoronamento, ou porque têm medo de dormir dentro da própria casa. Eu também teria.

A maioria dos prédios aonde funcionavam escolas desmoronou. E, nas poucas escolas que estão de pé, as crianças não querem ir para as aulas com medo de novos desabamentos. Há centenas de corpos embaixo dos escombros. Não há “bulldozers” para retirar os entulhos. Em alguns locais o cheiro é muito forte.

Em situações como esta vemos o quê há de pior e melhor na natureza humana. Alguns se aproveitam da situação: pegam alimentos e barracas doadas e vendem.
Uma barraca pode chegar a valer US$ 500,00 no mercado paralelo.

Mas o que me impressionou foi o nosso lado bom: dezenas de organizações de ajuda humanitária estão no Haiti. Grandes, como Médicos sem Fronteiras e Cruz Vermelha. E pequenas, com meia dúzia de pessoas vestindo camisetas com frases como “Help Haiti” e coisas assim. As Nações Unidas estão fazendo um belíssimo trabalho, bem como o exército brasileiro, sob comando do Coronel Azevedo, o qual foi o único sobrevivente entre 10 militares que estavam dentro de um prédio no momento do terremoto. Deus continua firme no propósito para a vida do Coronel Azevedo.

Visitei a catedral aonde D. Zilda Arns nos deixou. Não pude conter as emoções. Eu não posso escolher como morrer. Mas se pudesse, eu gostaria de deixar esta vida como ela, cumprindo a sua missão. Entretanto, posso escolher como viver. Então, escolhi viver como ela. Simplesmente fazendo aquilo que eu acredito que deve ser feito para que a humanidade seja melhor.

Eu fui ao Haiti movido pelos passos de Jesus Cristo. Acredito que Ele teria ido para lá se estivesse fisicamente por aqui. Acredito que D. Zilda Arns também acreditava nisso. E o Coronel Azevedo também acredita nisso. E encontrei dezenas de pessoas que acreditam nisso.

Aonde estão os ateus e os céticos nesta hora? Se eles estavam lá, não eram a maioria. E eu não consigo imaginar que tipo de esperança eles poderiam oferecer a quem perdeu a casa, a família e o sustento de uma só vez. Conversei com militares, clérigos, comerciantes, médicos, brasileiros, norte americanos, haitianos, homens, mulheres e crianças. E não encontrei o ceticismo tão presente entre aqueles que comem 3 vezes ao dia, com mais de 2 carros na garagem e uma previdência privada polpuda. Eu vivo no meio destes a maior parte do ano. Talvez seja mais fácil duvidar da existência de Deus quando estamos de barriga cheia. Desculpem pela minha sinceridade.

Conversei com um casal que perdeu um filho, a casa e o trabalho. Disseram para mim: Jesus prometeu que cuidaria dos seus filhos então Ele irá cuidar de nós. Ele foi amoroso conosco porque poderíamos ter morrido todos, mas estamos vivos e podemos continuar acreditando nele. Voltei para o meu assentamento envergonhado. Perco a paciência por causa de uma vaga de automóvel no shopping. Quase blasfemo contra Deus quando perco um bom negócio. Fico ansioso para saber quanto será o meu bônus anual. Morro de raiva daquele cara que tentou me “passar a perna” no trabalho.

A vida moderna cria a ilusão de que estamos nos tornando seres melhores e maiores. Então, por que estamos dando mais atenção a coisas tão pequenas? A ida ao Haiti foi um retiro espiritual para mim. O trânsito é caótico, comparável a São Paulo – Capital. Água potável só em garrafas industrializadas. Dormi em uma barraca bastante confortável, ao lado de um galo maldito que começava a cacarejar às 3:00 da manhã. Há muita gente perambulando pelas ruas porque não têm o que fazer. Alguns haitianos vêm puxar conversa, perguntam de onde você vem. Em geral eles são bastante simpáticos. Gostam de perguntar e aprender novas línguas. Em meio a tudo isso, mais uma vez, aprendi a dar importância para aquilo que é importante.

Já estou de volta a vida normal. Vou continuar tomando bons vinhos de vez em quando, indo a restaurantes com a família, andando de moto com os amigos, trabalhando muito no banco, que é o meu campo missionário atualmente. Mas todas estas coisas estão de volta ao seus devidos lugares. Como notas musicais elas compõem a minha vida, mas não dão o tom dela. Eu existo porque Jesus Cristo quis que eu existisse e o propósito maior é ser como ele. Fazer o quê ele faria, ir para aonde ele iria, decidir como se ele estivesse decidindo.

Isso não faz de mim uma pessoa especial. Nem melhor do que os outros. Apenas me deixa mais tranqüilo, confiante e disposto a levar a sério a decisão que tomei de ser um discípulo de Jesus Cristo em qualquer lugar deste planeta. Na Vila Olímpia e no Haiti.

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