O
crescimento do segmento evangélico trouxe alguns problemas muito
sérios, como o surgimento de sincretismos (mistura do evangelho com
outras crenças), liderança hipócrita, crentes nominais, igrejas
ritualistas, igrejas de massa onde quase ninguém é conhecido, e uma
verdadeira indústria, uma espécie de “economia evangélica”, cujo
espantoso aumento é notado pelos especialistas, principalmente em duas
áreas: a editorial e a de entretenimento.
Sob
determinado ponto de vista, uma “economia evangélica” é aceitável e
necessária, tendo em vista que os crentes também são consumidores e
precisa haver oferta no mercado de livros, revistas e jornais que eles
possam ler, bem como gravações musicais que possam ouvir e filmes que
possam ver, o que vem a dar também na necessidade de um sistema de
comunicação (rádio e televisão). O problema é associar isto tudo com
adoração, e a pergunta que se faz necessária é a seguinte: Existe, de
fato, adoração em atividades que visam claramente o lucro financeiro e a
promoção pessoal?
Os
chamados shows de cantores e bandas ditos evangélicos constituem a mais
evidente dessas atividades. A palavra “show” vem do inglês e quer dizer
exibição, exposição. Está claro que, por mais que as pessoas que se
exibem sejam de fato crentes e éticas, por mais que as letras falem de
Deus e sua Palavra, tais shows visam expor a arte (nem sempre é possível
chamar assim) delas e obter compensação financeira por isso.
Mas,
para piorar, temos aí pelo menos mais dois problemas: primeiro, as
exigências de mercado interferem diretamente no contéudo e estilo das
músicas gravadas, produzindo um nivelamento por baixo, com muita coisa
de péssima qualidade (pois é preciso gravar o que vende). Segundo, a
grande maioria dos autores e cantores tem um conhecimento doutrinário
raso, daí se produzindo verdadeiras heresias, que o povo repete como
mantras. Ou, então, suprime-se o que não agrada, como a menção à
confissão de pecados, ao arrependimento, ao juízo final, etc.
Isso
não quer dizer que não devamos adquirir bons discos, e os há. Mas
chamar um “show gospel” de adoração é demais. Precisamos manter um
distanciamento crítico que nos permita ver as coisas como de fato são.
Apesar do conteúdo de fé daquilo que é exibido, um show gospel não é
adoração.
Mas
a resposta à pergunta acima tem um desdobramento. Se os chamados shows
evangélicos se restringissem aos ambientes próprios para eles, seria
“menos pior”. O problema é que o show gospel foi trazido para dentro da
igreja, a adoração praticada nos cultos passou a seguir seu modelo, e aí
o problema tornou-se muito maior.
Em
primeiro lugar um show exige um grande ambiente e tecnologia pesada
(instrumentos musicais, som, imagem, iluminação, etc.), investimento que
a maioria das igrejas não tem condições de fazer, e quando fazem é em
detrimento de coisas muito mais importantes como missões, evangelização,
educação, serviço social, e outras atividades (e isso também é
adoração).
Em
segundo lugar, uma das principais características de um show é o alto
volume do som, coisa não somente insuportável por ser prejudicial à
saúde dos ouvidos, principalmente dos mais velhos, como também
incompatível com um ambiente de culto. A música de adoração deve
levar-nos à meditação, à reflexão e à comunhão com Deus, e não ao
ensurdecimento e à agitação emocional.
Em
terceiro lugar, os shows evangélicos reproduzem o estilo dos shows
mundanos, e isso, por tabela, veio também para dentro dos cultos. A
postura dos músicos é de exibição, são usadas palavras de ordem e gestos
para estimular o auditório, mas o pior de tudo são as coreografias (ou
danças, como alguns preferem), que nos fazem sentir como se estivéssemos
assistindo a um programa do falecido Chacrinha. Não temos as
“chacretes”, mas temos as “gospeletes”.
Em
quarto lugar, mas não esgotando o assunto, o formato de show subverte
completamente o propósito de um culto de adoração, pois visa o
entretenimento. As pessoas vão a um show gospel para divertir-se e não
para adorar a Deus. A música e mesmo a pregação, quando ela é admitida, é
de molde a entreter o ouvinte. Nada de falar de pecado, de necessidade
de arrependimento e transformação radical, de juízo final, etc. Faça um
teste: quantos cânticos espirituais que você conhece falam desses
assuntos?
Portanto, precisamos urgentemente banir o show de nossos cultos de adoração.
Pr. Sylvio Macri
Acho que não concordo com esse texto, é muito radical. Se pensarmos desta maneira, não deveriamos ter sequer um violão na Igreja. E porque não devemos usar nossos gestos que usamos em shows mundandos para adorar a Deus?
ResponderExcluirÉ difícil, mas o correto seria ter o discernimento entre adoração a Deus e exibicionismo.